Um pé Fora do Armário

     Não é drama da minha parte, mas nunca me senti tão sozinho, solitário e até perdido depois que o Marcos morreu. Deve tá ficando chato eu escrever isso aqui sempre mas é verdade. Mas enfim, hoje dei mais um passo em relação a "viver no armário" e essa solidão diminuir um pouco.

     Sou formado em Educação Física, e na época da faculdade eu corria muito e participava de algumas Corridas de Rua, inclusive em outros Estados. Fui com três amigos fazer uma Meia Maratona em Foz do Iguaçu, chegamos uns três dias antes da corrida pra conhecer a cidade e fazer compras no Paraguai. No primeiro dia fomos ver as cataratas e ao voltarmos para o hotel deparamos com uma mulher loira, olhos verdes, corpão e com roupa de corria discutindo na recepção. Não lembro porque ela estava discutindo, mas falei pra terem calma e a chamamos pra jantar. Nascia ali uma grande amizade com Elis. Ela também tinha ido para a Meia Maratona, morava em SP. Eu e meus amigos nos demos super bem com ela de cara. Trocamos orkut (to ficando velho, rs) e telefone. 

     Minha amizade com Elis consegui ultrapassar a viagem de Foz. Ao voltarmos pra SP mantemos o contato, nos falávamos com frequência, sempre que nossas agendas batia a gente corria, jantava, almoçava. Temos mais coisas em comum do que incomum. Incomum = ela é ateia e eu sou cristã, mas algo extremamente indiferente pra nós. Em comum = paixão por cachorros, paixão por corridas, respeito pelas pessoas, amor próprio sem ser egoísta. E ela sempre foi uma pessoa que eu sei que se eu precisasse ela estaria ali para o que der e viesse. Ai veio minha vontade de falar pra ela meu "segredo". Mas veio as dúvidas, como seria a reação dela? Ela continuaria me tratando do mesmo jeito? 

     Ai veio minha parte de sondar, ver como ela via e tratava os gays. E não precisei muito. Ela tem um amigo gay que é quase um irmão pra ela (não to falando de mim ainda, calma... rs), inclusive morou na casa dela um certo tempo. Ai esse amigo dela arrumou um namorado e estão morando juntos. Conheci esse casal de caras também, cheguei a jantar com Elis e eles três vezes. Sempre imaginei que ela e eles soubesse de mim, pois consigo detectar um gay de longe haha.

     Ontem a noite foi o dia D. Ela não estava muito bem de saúde então fui visitá-la. Jantamos pizza e depois da janta fomos buscar água pro filtro dela.  No caminho...

- Elis quanto tempo a gente se conhece?

- Não sei, uns três, quatro anos...

- Caramba, verdade, quem diria que naquela corrida a gente ia se conhecer

- Pois é, e parece que eu te conheço há muito mais tempo

- Eu tenho uma coisa pra te contar

- Fala

- Ah, não depois eu falo (só pra fazer charminho falei isso haha)

- Ah não, agora vc vai falar!!! 

- Meu, é uma coisa séria que eu nunca contei pra ninguém, é um segredo da vida toda

- Pode falar 

- Hum, como eu vou te contar... Eu sou da turma do Alexandre (o amigo gay dela)

ELA PAROU O CARRO

- Mentira, Jura?

- Juro, e eu nunca contei isso pra alguém próximo. Nem família, nem amigos, nem ninguém.

(nesse momento comecei a chorar, de emoção eu acho, não sei explicar o motivo)

(ela me abraçou)

- Se eu já gostava muito de você, agora vou gostar mais.

Ah, e perguntei se ela desconfiava de mim e ela disse que nunca imaginou. Pensei que ela desconfiasse pois quando se tem amigos gays geralmente se tem uma percepção para saber que a pessoa é gay, ai ela disse que nem imaginava. Imaginava que eu fosse tradicionalzão por ser evangélico, militar. Falou que as amigas delas sempre desconfiou que eu gostasse dela, mas disse que talvez eu nunca tenha tocado no assunto pra não estragar a amizade.

Enfim, foi assim que sai um pouco do armário.